sexta-feira, 18 de outubro de 2013

"Sobre o corpo" de Patrice de Moraes





SOBRE O CORPO





Sobre o corpo

escorria as mãos. Deixava-as escorrer

suavemente

apresentando-me as virtudes

consagradoras de ávidas atitudes...



Deixava-as.



Sobre o corpo

escorria o corpo.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

TOMA MEU CORPO, AMOR


(...)
Toma meu corpo, amor, e nessa ânsia
de encontrarmos o autêntico prazer
alimentado por nossa ganância

despeja sobre nós todo esse arder
que escorre da lascívia, da fragrância
que a carne devassada adora ter.


Excerto de TOMA MEU CORPO, AMOR, em EURÓTICO.



DESCOBRINDO-SE (Patrice de Moraes)




DESCOBRINDO-SE





            Escolha uma hora em que ninguém esteja por perto. Uma hora em que você seja e esteja você — apenas. Devagarzinho, comece a tirar a terra que cobre aquela semente miudinha escondida lá no fundo, bem no íntimo de você. Aquela que faz você ser único ante tantas outras espalhadas nesse universo de dilatada fertilidade. Mas tome cuidado para não cair na tentação da descoberta imediata e jogar tudo por água abaixo. Deve-se preservar a paciência e o autocontrole. — Conhecimento verdadeiro só nos chega através de muita calma, esforço e dedicação.

            Escave, escave, escave...; e assim que a semente puder ser vista a olho nu, pegue-a com carinho, coloque-a num vaso repleto de autoanálise e aguarde cerca de quatro a cinco estágios de reconhecimento. Tire-a agora do vaso e volte a colocá-la no seu lugar de origem, não se esquecendo de cobrir milimetricamente os espaços vazios que porventura insistam em aparecer. Pronto! Tenho certeza que agora você saberá os frutos que podem brotar dessa sua semente tão promissora e entenderá por que é que Deus e eu cremos tanto em você.







(PATRICE DE MORAES)






SERVIDÃO

Não luto contra a carne: eu a respeito.
Não posso lhe negar o seu direito
de realizar-se como ser, sujeito
vivo, por natureza insatisfeito,

regido dia e noite sob o efeito
da libido, veículo eleito
pra dar à carne o físico conceito
de prazer. Quanto mais sinto no peito

convocação da carne para o leito,
mais sou file a ela, mais aceito
servi-la  ― sem mostrar-me contrafeito ―,

afinal no meu sangue flui o preceito 
de insaciabilidade  que aproveito
até me ver esgotado, rarefeito.



Patrice de Moraes, em EURÓTICO








Drummond

 


Amor ― pois que é palavra essencial                 
     comece esta canção e toda a envolva...
                         (...) Então a paz se instaura. A paz dos deuses... 


Carlos Drummond de Andrade