sexta-feira, 22 de novembro de 2013













(...)
vim porque a Paixão
me chamou pelo nome a a alma obedece
e aceita suar sangue — como não?
 
 
                                                                                                      
Bruno Tolentino

sexta-feira, 15 de novembro de 2013



O POEMA DA BAHIA QUE NÃO FOI ESCRITO

UM DIA – FAZ MUITO TEMPO, MUITO TEMPO –
ACHEI QUE ERA IMPERATIVO FAZER UM POEMA SOBRE A BAHIA,
MÃE DE NÓS TODOS, AMANTE CRESPA DE NÓS TODOS.
MAS EU NUNCA TINHA VISTO, SENTIDO, PISADO, DORMIDO, AMADO A BAHIA.
ELA ERA PARA MIM UM DESENHO NO ATLAS,
ONDE NOMES BRINCAVAM DE ME CHAMAR:
BONINAL,
GENTIO DO OURO,
PALMAS DO MONTE ALTO,
QUIJINGUE,
XIQUEXIQUE,
ANDORINHA.
– VEM... ME DIZIAM OS NOMES, ORA DOCES.
– VEM! ORA ENÉRGICOS ORDENAVAM
NÃO FUI.
DEIXEI FUGIR A MINHA MOCIDADE,
DEIXEI PASSAR O ESPÍRITO DE VIAGEM
SEM O QUAL É VÃO PERCORRER AS SETE PARTIDAS DO MUNDO.
OU POR OUTRA, COMECEI A VIAJAR POR DENTRO, À MINHA MANEIRA.
AINDA CARECE FAZER POEMA SOBRE A BAHIA?
NÃO.
A BAHIA FICOU SENDO PARA MIM
POEMA NATURAL
RESPIRÁVEL
BEBÍVEL
COMÍVEL
SEM NECESSIDADE DE FONEMAS.


© CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Noite de autógrafos em Berimbau


 (...)

onde oração à vida e ao que ela tem
de essencial revelam a ambição
de um povo que desdobra o coração
na fé num orixá..., num santo... — amém.


(...)

Patrice de Moraes


                                 XV

Sofrer..., mas ser da fé um puritano.
Sorrir inda que o sofrimento insista.
São esses os caminhos do otimista,
principalmente quando ele é baiano.


Viver feliz não é nenhum engano.
Sabemos que nem tudo é “terra à vista”!
Mas cada ritmo expressa uma conquista
que faz-nos liberar o lado ufano,


apimentado da baianidade
que nos tornou exemplo de saudade
no coração de quem sente a Bahia.


É o beijo de um amor que se quer ter,
reverenciando-o, e com ele assim viver
um estado em eterno estado de poesia!



(Última parte do poema Minha Bahia de Patrice de Moraes.)

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

"Sobre o corpo" de Patrice de Moraes





SOBRE O CORPO





Sobre o corpo

escorria as mãos. Deixava-as escorrer

suavemente

apresentando-me as virtudes

consagradoras de ávidas atitudes...



Deixava-as.



Sobre o corpo

escorria o corpo.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

TOMA MEU CORPO, AMOR


(...)
Toma meu corpo, amor, e nessa ânsia
de encontrarmos o autêntico prazer
alimentado por nossa ganância

despeja sobre nós todo esse arder
que escorre da lascívia, da fragrância
que a carne devassada adora ter.


Excerto de TOMA MEU CORPO, AMOR, em EURÓTICO.



DESCOBRINDO-SE (Patrice de Moraes)




DESCOBRINDO-SE





            Escolha uma hora em que ninguém esteja por perto. Uma hora em que você seja e esteja você — apenas. Devagarzinho, comece a tirar a terra que cobre aquela semente miudinha escondida lá no fundo, bem no íntimo de você. Aquela que faz você ser único ante tantas outras espalhadas nesse universo de dilatada fertilidade. Mas tome cuidado para não cair na tentação da descoberta imediata e jogar tudo por água abaixo. Deve-se preservar a paciência e o autocontrole. — Conhecimento verdadeiro só nos chega através de muita calma, esforço e dedicação.

            Escave, escave, escave...; e assim que a semente puder ser vista a olho nu, pegue-a com carinho, coloque-a num vaso repleto de autoanálise e aguarde cerca de quatro a cinco estágios de reconhecimento. Tire-a agora do vaso e volte a colocá-la no seu lugar de origem, não se esquecendo de cobrir milimetricamente os espaços vazios que porventura insistam em aparecer. Pronto! Tenho certeza que agora você saberá os frutos que podem brotar dessa sua semente tão promissora e entenderá por que é que Deus e eu cremos tanto em você.







(PATRICE DE MORAES)






SERVIDÃO

Não luto contra a carne: eu a respeito.
Não posso lhe negar o seu direito
de realizar-se como ser, sujeito
vivo, por natureza insatisfeito,

regido dia e noite sob o efeito
da libido, veículo eleito
pra dar à carne o físico conceito
de prazer. Quanto mais sinto no peito

convocação da carne para o leito,
mais sou file a ela, mais aceito
servi-la  ― sem mostrar-me contrafeito ―,

afinal no meu sangue flui o preceito 
de insaciabilidade  que aproveito
até me ver esgotado, rarefeito.



Patrice de Moraes, em EURÓTICO