quarta-feira, 24 de outubro de 2012


Estar bem e feliz é uma questão de escolha
e não de sorte ou mero acaso.
É estar perto das pessoas que amamos,
que nos fazem bem e que nos querem bem.
É saber evitar tudo aquilo que nos incomoda ou faz mal,
não hesitando em usar o bom senso,
a maturidade obtida com experiências passadas
ou mesmo nossa sensibilidade para isso.
É distanciar-se de falsidade, inveja e mentiras.
Evitar sentimentos corrosivos como o rancor,

a raiva e as mágoas, que nos tiram noites de sono
e em nada afetam as pessoas responsáveis por causá-los.
É valorizar as palavras verdadeiras
e os sentimentos sinceros que a nós são destinados.
E saber ignorar, de forma mais fina e elegante possível,
aqueles que dizem as coisas da boca para fora
ou cujas palavras e caráter
nunca valeram um milésimo do tempo que você perdeu ao escutá-las.
(Friedrich Nietzsche)

domingo, 21 de outubro de 2012

Primeiro canto do poema MINHA BAHIA, de Patrice de Moraes.


       MINHA BAHIA


Triste do brasileiro que não carrega em si
                                                                                        algumas coisas de baiano.

                                                                                                                          GILBERTO FREIRE





I



Bahia: meu chamego, minha preta,
meu dengo, minha nega — meu amor.
Sou filho teu legítimo, com a cor
da alma brasileira mais porreta.

Cresci admirando esse teu jeito
peculiar de ser, os teus encantos
que encantam a nobreza e os outros tantos
espíritos cultores do conceito

fragrante de beleza. Assim tornei-me
incondicionalmente amante teu,
fiel a ti e a quem te concebeu
altar dos mais sagrados (batizei-me

aí, com as águas puras da alegria,
que purgam-me da dor, do sofrimento,
mesmo estes a insistir renascimento,
sob bênção da divina eucaristia),

onde oração à vida e ao que ela tem
de essencial revelam a ambição
de um povo que desdobra o coração
na fé num orixá..., num santo... — amém.

(Taí uma das coisas que fascinam
não só baianos como não-baianos:
ter a Bahia tantos meridianos
à religião voltados. Sendo assim não

opõe-se a humanas manifestações
constantes de caráter religioso.
Pelo contrário, é sempre auspicioso
seu jeito de acolher variações...)

O sacro sempre foi característica
quotidiana da baianidade
tomada na raiz. Cada entidade
seguida é em toda sua mística,

em todo seu fascínio de poder
aproximar o baiano do Divino,
qualquer que seja a fonte do seu hino
de fé. Então não tem o que temer.

No sertanejo, então, essa atitude
atinge as raias do incompreensível:
tem ele na barriga o subnível
da fome, acompanhado pelo açude

da sede, e ambos à seca devolvidos;
e ainda assim com humilde paciência
agarra-se à sua fé com a veemência
de quem não sofre as dores dos sofridos...

É com essa fortaleza espiritual
que muitos dos baianos se revestem
para afastar os males que anoitecem
sobre eles. É uma conduta natural

herdada do painho, da mainha,
que por sua vez tiveram sua herança
no sofrimento, na nordestinança
vivida por vô inho,  por vó inha.

É o ciclo vivo da religião,
seu pragmatismo na alma do baiano
que sabe desde cedo o quotidiano
que acompanhá-lo-á de pão a pão:

sofrer..., mas ser da fé um puritano.



FLICA 2012

Patrice de Moraes em prosa (e versos) com Jackson Costa.
Após a prosa (e os versos) com Jackson Costa.
 SERVIDÃO

Não luto contra a carne: eu a respeito.
Não posso lhe negar o seu direito
de realizar-se como ser, sujeito
vivo, por natureza insatisfeito,

regido dia e noite sob o efeito
da libido, veículo eleito
pra dar à carne o físico conceito
de prazer. Quanto mais sinto no peito
 
convocação da carne para o leito,
mais sou fiel a ela, mais aceito
servi-la  - sem mostrar-me contrafeito -,

afinal no meu sangue flui o preceito
de insaciabilidade - que aproveito
até me ver esgotado, rarefeito.

PATRICE DE MORAES