MINHA
BAHIA
Triste do brasileiro que
não carrega em si
algumas coisas de baiano.
GILBERTO FREIRE
I
Bahia: meu
chamego, minha preta,
meu dengo, minha
nega — meu amor.
Sou filho teu
legítimo, com a cor
da alma
brasileira mais porreta.
Cresci admirando
esse teu jeito
peculiar de ser,
os teus encantos
que encantam a
nobreza e os outros tantos
espíritos
cultores do conceito
fragrante de
beleza. Assim tornei-me
incondicionalmente
amante teu,
fiel a ti e a
quem te concebeu
altar dos mais
sagrados (batizei-me
aí, com as águas
puras da alegria,
que purgam-me da
dor, do sofrimento,
mesmo estes a
insistir renascimento,
sob bênção da
divina eucaristia),
onde oração à
vida e ao que ela tem
de essencial
revelam a ambição
de um povo que
desdobra o coração
na fé num
orixá..., num santo... — amém.
(Taí uma das
coisas que fascinam
não só baianos
como não-baianos:
ter a Bahia
tantos meridianos
à religião
voltados. Sendo assim não
opõe-se a
humanas manifestações
constantes de
caráter religioso.
Pelo contrário,
é sempre auspicioso
seu jeito de
acolher variações...)
O sacro sempre
foi característica
quotidiana da
baianidade
tomada na raiz.
Cada entidade
seguida é em
toda sua mística,
em todo seu
fascínio de poder
aproximar o
baiano do Divino,
qualquer que
seja a fonte do seu hino
de fé. Então não
tem o que temer.
No sertanejo,
então, essa atitude
atinge as raias
do incompreensível:
tem ele na
barriga o subnível
da fome,
acompanhado pelo açude
da sede, e ambos
à seca devolvidos;
e ainda assim
com humilde paciência
agarra-se à sua
fé com a veemência
de quem não
sofre as dores dos sofridos...
É com essa fortaleza
espiritual
que muitos dos
baianos se revestem
para afastar os
males que anoitecem
sobre eles. É
uma conduta natural
herdada do
painho, da mainha,
que por sua vez
tiveram sua herança
no sofrimento,
na nordestinança
vivida por vô
inho, por vó inha.
É o ciclo vivo
da religião,
seu pragmatismo
na alma do baiano
que sabe desde
cedo o quotidiano
que acompanhá-lo-á
de pão a pão:
sofrer..., mas ser da fé um puritano.
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